domingo, 13 de abril de 2008

Mexicanos X uma fronteira social

Placa encontrada perto da fronteira entre os EUA e o México, recomendando aos motoristas tomarem cuidado com imigrantes ilegais atravessando a estrada.
....................................................................................................................................................................
“Muita gente está mergulhando na clandestinidade. Porque há cerca de um milhão de pessoas que estão há muitos anos nos EUA, não se legalizaram em 1986, quando houve anistia geral, e agora temem ir a um escritório do Serviço de Imigração para se legalizar e, em vez disso, serem sumariamente expulsas. Isso tudo é perigoso. Cria um cidadão de segunda classe. É uma legislação que contraria as tradições desse país cuja grandeza foi construída por imigrantes”, depõe Raul Ramirez, um dos responsáveis pelo Centro de Apoio ao Migrante em Tijuana, quando entrevistado por Carlos Azevedo, ex-repórter da antiga revista Realidade.

Essa declaração está no livro Cicatriz de Reportagem, composto por 13 reportagens de Carlos. A matéria “O muro americano” foi publicada em dezembro de 1997, conta a história de imigrantes que tentam ultrapassar a fronteira México- Estados Unidos, comparando a disparidade sócio-econômica dos paises e a divergência de interesse entre eles.

O registro da viagem é rico em detalhes. Carlos passa três semanas percorrendo mundos distintos divididos por uma distância mínima. A aspiração que o mexicano tem pelo solo americano é da promessa de emprego e melhoria de vida. Já o outro lado não condiz. Os nortes-americanos declaram, em sua maioria, suas revoltas e a negação de uma boa receptividade para com os estrangeiros, principalmente se esses forem ilegais.

Parece que a utilidade dos “chicos” é de servir como mão-de-obra barata para as empresas que se instalam no território do México, as chamadas maquiladoras. Há cerca de 3.650 companhias que empregam mais de um milhão de trabalhadores. O salário diário é de quatro dólares.

Organizações em defesa dos direitos trabalhistas relatam a exploração sofrida pelos empregados, como: o excesso da carga horária (não tendo pagamento de hora extra), a falta de segurança no trabalho, a discriminação contra as trabalhadoras grávidas e o abuso sexual. Em contra partida, as maquiladoras dizem que o nível de educação tem se elevado na região por elas demandarem pessoal mais treinado, causa da implantação de centros técnicos e escolas no país.

Os imigrantes ilegais custam ao governo americano mais de US$ 10 bilhões por ano, e essa quantia pode quase triplicar se eles tiverem sua situação legalizada, afirmou um estudo feito pelo Centro para Estudos em Imigração, em Washington. Especialistas avaliam que se esse ritmo atual de imigração continuar, em cerca de 25 anos, mais ou menos 40% dos mexicanos estarão vivendo nos estados localizados junto à faixa fronteiriça. Hoje, já estão instalados na região quase 20%.

Conhecidos como coiotes, os polleros, responsáveis pela facilitação da entrada ilícita, chegam a cobrar cinco mil dólares por travessia. Nas últimas duas décadas, não foram poucos os clandestinos que perderam a vida na tentativa de chegar aos EUA, tendo este número aumentado 22% em 2005. Nesse mesmo ano, as autoridades americanas detiveram 303.825 estrangeiros, enquanto que em 2006 foram 324.0825. Apesar do número de pessoas que tentam fazer a ultrapassagem ter diminuído aparentemente, a quantidade daqueles que morreram tentando aumentou. De certa forma, isso reflete uma maior presença do patrulhamento. No setor de Tucson, a Patrulha Fronteiriça adicionou pelo menos 300 agentes, o que cresceu o total de seus agentes ali para 2.700.

Por toda essa opressão em seu próprio país, os mexicanos preferem imigrar ilegalmente para os Estados Unidos, mesmo sabendo de toda a falta de aparato que terão que passar. Eles acreditam que serão recompensados por um dinheiro mais próprio e mais digno. Uma nação que não tem distinção entre direitos territoriais, até porque, vale salientar, na guerra de 1848 os norte-americanos tomaram dois terços das terras mexicanas. Um direito negado a uma terra erguida por ancestrais.